Textos críticos
Sobre o perdão e a solidariedade dos viventes: Diálogos com Jacques Derrida e Evando Nascimento

A Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, posto avançado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) no bairro de Botafogo, Rio de Janeiro, é um espaço voltado para as mais diversas atividades culturais. Em março de 2016, foram inauguradas, com grande êxito, as Jornadas Casa Dirce, cujo objetivo é discutir em profundidade um título relevante recém-lançado no mercado editorial brasileiro ou internacional. A primeira das Jornadas se deu em função do lançamento do livro de Pedro Meira Monteiro (professor titular de Princenton University), Signo e Desterro: Sérgio Buarque de Holanda e a imaginação do Brasil (Hucitec, 2015), com a participação de diversos especialistas.

Dando continuidade às Jornadas Casa Dirce, foi organizado, em abril de 2017, um encontro em torno de La solidarité des vivants et le pardon (Éditions Hermann, 2016), livro que, além de uma conferência inédita de Jacques Derrida sobre o perdão – a última proferida por ele, em agosto de 2004, no Rio de Janeiro –, traz entrevistas com o autor e o ensaio introdutório de Evando Nascimento (UFJF), “Derrida au Brésil”. Além do próprio Nascimento e do organizador do evento, Nabil Araújo (UERJ), participaram do debate convidados nacionais e internacionais, com reconhecido trânsito na obra do grande filósofo franco – argelino e conhecedores do trabalho de Nascimento. Os temas do perdão e da solidariedade dos viventes foram os fios condutores do colóquio, mas outros importantes aspectos políticos, éticos e estéticos da obra derridiana foram abordados: a arte, a poesia, a hospitalidade, a justiça, o estrangeiro, os animais, a espectralidade e as plantas.

O encontro aconteceu por meio de três modalidades. O colóquio principal teve lugar no Instituto de Letras da UERJ nos dias 17 e 18 de abril, contando com a participação de Fernanda Bernardo (Universidade de Coimbra), Ginette Michaud (Université de Montréal) e Evando Nascimento, como conferencistas, bem como de Marcos Siscar (Unicamp), Cláudia Perrone-Moisés (USP), Nabil Araújo, Alcides Cardoso (Unesp-Araraquara) e Marco Antônio Coutinho Jorge (UERJ), em mesa-redonda. Nos dias 19 e 20, Fernanda Bernardo realizou, no mesmo local, um minicurso a partir de sua tradução de O monolinguismo do outro, de Derrida (Chão da Feira, 2017). Na noite do dia 19, ocorreu na Mediateca do Consulado da França no Rio de Janeiro uma mesa-redonda em
memória de encontros com Derrida, de que participaram Ginette Michaud, JeanPaul Lefèvre (Aliança Francesa) e Evando Nascimento; a sessão foi coordenada pela diretora do Escritório do Livro francês, Alice Toulemonde.

Derrida é, como se sabe, um dos filósofos mais influentes da segunda metade do século XX e do século atual. Autor de uma obra com cerca de oitenta volumes, foi traduzido em várias línguas e viajou diversas vezes para países da Europa, da América do Sul, da África e da Ásia, como também desenvolveu toda uma carreira nas universidades americanas a partir dos anos 1960. A
“desconstrução”, termo pelo qual seu trabalho é mais conhecido, foi e permanece uma referência teórica e crítica maior nos domínios de literatura, direito, arquitetura, educação e outras humanidades. Os estudos pós-coloniais, étnicos e de gênero também receberam forte contribuição do pensamento derridiano.

Os professores e pesquisadores, brasileiros e estrangeiros, envolvidos no evento puderam se reunir e discutir em profundidade o livro inédito do autor, recém-publicado na França por Evando Nascimento, e de apresentar à comunidade acadêmica e demais interessados o estado atual de suas pesquisas a partir de Derrida. O público presente – professores e pesquisadores universitários, alunos de graduação e de pós-graduação – não apenas acompanhou, mas participou ativamente dos debates que se seguiram nos quatro dias de atividades.

Com este livro, que reúne os textos das conferências e intervenções em mesa-redonda, bem como comentários de Nascimento a cada uma delas, pretende-se estender, a um público mais amplo, o espectro das discussões empreendidas na ocasião, a título tanto de registro documental quanto de convite ao pensamento.

Fica aqui expresso, enfaticamente, o agradecimento a todas as instituições que colaboraram para a realização do encontro. À diretora da Casa de Leitura Dirce Côrtes Riedel, Maria Aparecida Andrade Salgueiro e a seu Presidente honorário, Ivo Barbieri. Aos dois coordenadores da Pós-Graduação em Letras da UERJ, em mandatos sucessivos, Roberto Acízelo e Júlio César França Pereira. A João Cezar de Castro Rocha, Presidente da Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC), na gestão 2016/2017. À diretora do Escritório Francês do Livro no Rio de Janeiro, Alice Toulemonde, e a sua assistente, Madeleine Deschamps. Ao diretor geral e ao coordenador cultural da Aliança Francesa do Brasil, respectivamente, Jean-Paul Lefèvre e Thomas Brégeon. E finalmente à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).